Boas Práticas e Bem-Estar Animal no Manejo de Bezerros
A criação de bezerros requer uma série de cuidados e atenção redobrada aos detalhes do manejo que podem interferir significativamente nos resultados da produção final.
Por esse motivo a adoção de boas práticas e bem-estar animal no manejo de bezerros é fundamental para garantir uma produtividade excelente na etapa final da criação dos bovinos.
As boas práticas também são eficientes na redução da mortalidade entre esses animais. Num sistema produtivo, a mortalidade está atrelada a prejuízos econômicos para o pecuarista, e as boas práticas de manejo já demonstraram resultados positivos no desempenho e na saúde dos bezerros, que naturalmente são uma categoria mais frágil e suscetível à ocorrência de doenças infecciosas, principalmente quando neonatos.
Cuidados durante o período neonatal:
Durante o período neonatal, que vai até os 28 dias de idade nos bezerros, o organismo do animal passa por uma série de mudanças na tentativa de se adaptar à vida extrauterina. Essa é a fase mais crítica da vida do bezerro.
O primeiro cuidado a ser tomado imediatamente após o nascimento do animal é garantir que a vaca realize a lambedura do bezerro. Isso ajuda a secar os pelos do animal, reduzindo as chances de hipotermia, além de remover as membranas da via aérea superior.
Quando a vaca estiver impossibilitada de realizar esse procedimento, este deve ser realizado de imediato pelo tratador, garantindo a sua sobrevivência. Deve ser feita também a estimulação da respiração através de massagem no tórax.
O contato inicial do tratador com o bezerro, quando feito de maneira adequada, é importante para desenvolver e melhorar o estímulo cerebral dos animais, que começam a desenvolver um comportamento adequado e dócil desde esse primeiro estímulo tátil.
Além disso, é fundamental garantir que o bezerro realize a ingestão de colostro ainda nas primeiras 6h após o parto. O colostro é o primeiro leite a ser secretado após o parto e está repleto de imunoglobulinas, componentes essenciais para a garantia do desenvolvimento do sistema imune do animal.
O bezerro não recebe imunoglobulinas maternas durante o período de gestação e, por esse motivo, é necessário adquirir esses componentes através da ingestão do colostro. Animais que não realizam a ingestão do colostro têm maiores índices de mortalidade.
O colostro também é uma fonte repleta de nutrientes essenciais para a sobrevivência do animal após o parto. A não ingestão do colostro também está extremamente relacionada com o desenvolvimento da hipoglicemia em neonatos, e esta é uma das principais causas de mortalidade entre animais desta categoria.
Um outro cuidado fundamental no período pós-parto é a cura do umbigo. O umbigo permanece aberto durante várias horas após o nascimento do animal, podendo funcionar como porta de entrada para microrganismos, que, por sua vez, podem ocasionar uma infecção indesejada, levando a mortalidade do animal.
Por esse motivo, a cura do umbigo deve ser realizada logo após o nascimento, utilizando uma substância a base de iodo, que oferece maior proteção contra diversos microrganismos patogênicos, como bactérias, fungos e vírus. O manejo deve ser repetido durante um período de três a cinco dias, pelo menos uma vez ao dia.
Cuidados durante os primeiros meses de vida
Os cuidados durante os primeiros meses de vida dos bezerros envolvem o fornecimento de uma dieta adequada, garantia de instalações adequadas e o manejo higiênico sanitário dentro dos preceitos de bem-estar animal.
O colostro deve ser oferecido ao animal até o terceiro dia de vida. Depois disso, os bezerros devem realizar a ingestão de leite integral ou sucedâneo do leite. Até o momento da desmama devem ser oferecidos alimentos sólidos ao animal, para estimular a transição do estado de não-ruminante para ruminante. Essa oferta pode ser feita através de creep-feedings.
As instalações onde serão mantidos os bezerros devem ser livres de perigos físicos, como pregos e arames farpados. Além disso, as instalações fechadas precisam ser higienizadas com frequência, minimizando o risco da existência de microrganismos potencialmente patogênicos.
O manejo higiênico-sanitário dos bezerros contempla a aplicação de vacinas e administração de vermífugos. Estes são de extrema importância para garantir a resistência imunológica dos animais frente aos desafios impostos pelo ambiente em que os animais vivem.
Porém, o cuidado durante a aplicação desses fármacos deve ser extremo, pois podem provocar injúrias no tecido muscular dos animais, no caso de vacinas, que podem levar à formação de abscessos indesejáveis. A aplicação de vermífugos também deve ser feita de acordo com o peso do animal e quando houver necessidade, para evitar a resistência parasitária. O controle estratégico das verminoses contribui para a diminuição da infestação parasitária no pasto e diminui os índices de ocorrência de doenças parasitárias nos rebanhos.
Recomenda-se que a vermifugação dos bezerros seja realizada em todos os animais aos dois, quatro e seis meses de idade. A partir daí, os animais devem entrar no programa de vermifugação estratégica adotado na propriedade.
Novas técnicas de bem-estar na criação de bezerros
O manejo de desmama tradicional dos bezerros vêm sendo modificado, e a desmama lado a lado têm sido implantada nas propriedades como uma alternativa que oferece redução do estresse dos animais, além de ter melhores resultados no ganho de peso dos animais.
Além dessa nova prática, que garante o bem-estar animal, outras práticas têm sido utilizadas em fazendas de cria, como a escovação do pelo dos bezerros. Essa técnica consiste na estimulação sensorial do animal, e auxilia na melhora do temperamento e comportamento, além da diminuição do medo do homem.
Sendo assim, a adoção de boas práticas no manejo de bezerros desde o período pós-natal até a desmama é de fundamental importância para diminuir a ocorrência de mortalidade dos rebanhos, além de melhorar a resistência a doenças infecciosas e facilitar o manejo dos animais através do desenvolvimento de comportamentos desejados.